sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Contra Tempo

24.09.2014

 O momento mais trágico - se assim se poderá dizer - da minha vida deu-se a 16 de Junho do presente ano. Parecia um dia, mais um dia comum na minha vida, quando de repente me vejo no chão sem conseguir levantar. Nesse dia, como tantos outros, tinha ido à minha aula de equitação. E como sempre, depois disso iria ter com a mãe ao trabalho.
 Vínhamos a descer a escadas, quando de repente, e SEM EXPLICAÇÃO, caio e ali fico. Completamente imobilizada! Tentava levantar-me, por achar que tinha sido mais uma queda. Depressa percebi que poderia ser mais do que isso, mas longe de imaginar o resultado. Sem resultado, não tinha qualquer força na perna direita, e só a esquerda não era capaz. A mãe pediu ajuda, e levaram-me ao colo! Nunca tinha torcido ou partido uma perna/pé, mas o que eu via não tinha bom aspecto.
 Mudámos obrigatoriamente o destino, em vez de casa, hospital! Tinha dores, e a viagem parecia interminável. Chorava a olhar para o pé e a querer que não fosse nada. Entre radiografias e talas, tive a simpática notícia de que teria que ser operada!
 Basta o que basta! - pensei eu. Não podia fazer nada. Iria ser operada.
 Batiam as 23h e pouco quando fui transferida de ambulância para o Hospital especializado! Tive tempo para avisar alguns familiares e amigos. Alguns respondiam em choque, também não queriam acreditar no que me tinha acontecido. Estava tudo a acontecer tão depressa, que eu nem conseguia pensar! De repente encontrava-me num quarto de hospital, com uma tala na perna e com a certeza de uma intervenção cirúrgica. Não dormi nada! Deu para me consciencializar! Não havia reacção. Não me podia levantar, nem sequer ir à casa-de-banho! Sendo a primeira vez de perna partida, estava a viver tudo outra vez!
 O dia levantou. Devia estar com olheiras até aos joelhos. Não pude comer, ia SER OPERADA! Pelo meio-dia e picos, levaram-me até à sala de operações. Eu tentava ser forte, mas estava em PÂNICO. A ficha só caiu realmente nesse momento! Não me lembrava como era ser operada. Apesar de algumas vezes, já tinham passado muitos anos. Era tudo novo para mim, como se uma primeira vez! É como nos filmes: vemos uma luz enorme redonda em cima de nós e de repente, apagamos!
 É impossível dizer o que ali se passou. A cirurgia terá durado ainda algumas horas. Sei que só acordei no pós-operatório no dia seguinte de manhã!
 Mesmo já sentido tudo BEM real, ainda custava a acreditar. Dali a poucos minutos, levaram-me para o quarto. Tinha os meus avós à espera! Que ALÍVIO. Não estava mais sozinha!
 Passei uma semana inteira no hospital. Todos os dia me perguntava quando iria eu para casa. Sabia que não iria poder andar, mas em casa a recuperação sabia melhor. Os dias passavam e nem sinal do médico. Estava rodeada de enfermeiros e auxiliares - acho que a melhor parte desta experiência. Eram todos super simpáticos, acessíveis e competentes.
 O mais importante estava comigo diariamente. A minha família e os meus amigos. Não falharam um dia. O horário de visita era das 12h às 20h, e nunca estive sozinha! Que bem sabia! Vinham ao pares, e animava o quarto! A parte mais triste era vê-los partir! Deve ter sido a semana em que menos dormi!
 A semana passou, e vem ter comigo o médico! Foi ele que me viu no outro hospital, mas eu não me lembrava! Estava a tomar banho, quando ele interrompeu para me dar A notícia! Iria ter alta nesse dia. Não podia acreditar, depressa fiquei a pessoa mais feliz da vida! Liguei logo à mãe - que me disse que esperava o meio dia para poder entrar no quarto - que ficou igualmente satisfeita! FUI para CASA nesse dia. Seguiram-se três semanas imóveis. Não poderia, de maneira alguma, esforçar o pé. Que tempo mais chato, ser dependente de alguém é das piores sensações da vida, acreditem. Ao fim de três semanas, tive uma consulta. Ia tirar os pontos, que viagem até ao hospital mais receosa. Não sabia o que iria ver, como estaria o meu pé? Nunca antes tinha passado por isto! Chegou a minha vez. Entrei na sala, deitaram-me na maca e tiraram-me a ligadura. PÂNICO OUTRA VEZ, tinha 23 pontos ao todo, x em cada lado da perna! Só via agrafes e duas enfermeiras com uma pinça cada, prontas para os remover! Assim que começaram, abri a guela. QUE DORES. Não bastavam já as que tinha diariamente, ainda tinha que sofrer mais um bocadinho... Quando o último agrafe saiu, expirei de alívio. O pior tinha passado! Seguiram-se mais 3 semanas de repouso absoluto até poder começar a fazer algum peso/esforço com a perna!

A chegada do andarilho deu-se a 30 de Julho. Mês e meio depois da queda. Tempo imóvel até aqui! COMO PODE uma pessoa passar por isto duas vezes!? Aos 24 anos e ter que RE-aprender a andar?! Mas assim foi. Os primeiros passos custavam horrores, e cada um deles era equiparados a uma corrida de dez quilómetros. Suava. Era díficil e horrível. Para cada marcha de um ponto a outro da casa, 20 minutos de gelo! O pé ficava quente e inchado!
Os dias passavam, e a próxima consulta chegava. A primeira em que iria a andar! Ainda que de andarilho - que entretanto já estava mais ágil - seria pelo próprio pé! Que BOM!
 Sempre que há consultas, há Raio-X. O médico precisa de ver se o osso está a consolidar bem.

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